Do alto da serra
A neblina naquela manhã de Domingo obliterava quase tudo à nossa volta e aquilo que os olhos não conseguiam ver a imaginação preenchia.
Espectros ganhavam corpo, à medida que se aproximavam, e voltavam à obscuridade com o seu afastamento.
As horas e os minutos avançavam vagarosamente mas o meu telemóvel adianta uma hora, confuso com a proximidade da fronteira. Nas ruas os sons chegam-nos em português e espanhol.
O vento sibilava e sacudia as árvores nuas e das muralhas só se via um manto denso branco que apagava qualquer vestígio de vida para além delas, fazendo daquele o único lugar na terra.
No início da tarde a névoa decidiu ceder um pouco e, a espaços, permitiu que o Parque Natural da Serra de S. Mamede se revelasse; o mundo exterior voltava a existir.
De Marvão vê-se a terra toda. Agora sim, Saramago faz mais sentido.